É praticamente impossível conhecer alguém na casa dos 40 anos que nunca tenha escutado “Losing My Religion”, maior hit do R.E.M. e também um dos mais conhecidos do cancioneiro pop rock mundial. A faixa está no álbum Out of Time, lançado em 12 de março de 1991, há exatamente três décadas.
Cultuado na cena independente americana durante os anos oitenta, o R.E.M. já tinha sentido o gostinho do mainstream com o reconhecimento do álbum anterior, Green (1988), após assinar um contrato milionário com a major Warner Bros Records. Mas, isso não era nada comparado ao sucesso que Michael Stipe, Mike Mills, Peter Buck e Bill Berry iriam conquistar com Out of Time.
Logo que lançado, o álbum tomou as paradas de vendas nos EUA e Europa, ficando por 109 semanas entre os mais vendidos nos dois continentes. O trabalho vendeu mais de 4 milhões de cópias nos EUA e 18 milhões no mundo todo. Em 1992, ganhou 3 prêmios Grammys, sendo um na categoria de Melhor Álbum de Música Alternativa, um em Melhor Videoclipe com “Losing My Religion” e outro em Melhor Performance Pop por Duo ou Grupo Vocal.
Com Out of Time, o R.E.M. experimentou na sonoridade. O grupo suavizou nas guitarras e abusou de elementos da música country, como, por exemplo, o icônico bandolim usado em “Losing My Religion”. Outras faixas que flertam nitidamente com o gênero são as tristonhas “Half a World Away” e “Country Feedback”, repletas de violões, órgãos e lap steel (conhecido como guitarra havaiana).
O álbum também apresentou dois outros grandes hits radiofônicos: “Radio Song”, a primeira faixa do disco, e “Shiny Happy People”, marcada pela participação de Kate Pierson, do The B-52’s e pelo clima de alegria excessiva transmitido na canção.
O clipe de “Shiny Happy People”, inclusive, mostra o vocalista Michael Stipe vestindo um terno bege largo e com o boné virado para trás, uma roupa quase bobalhona, e entrega muito bem o clima festeiro da música enquanto todos dançam e cantam.
“Um erro”
No episódio sobre a música “Losing My Religion” da série Por Trás Daquele Som, lançado recentemente na Netflix, Michael Stipe comenta sobre Out of Time e define o álbum como “esquizofrênico”, porque há músicas muito tristes, como “Country Feedback” e “Losing My Religion”, e outras alegres demais como “Shiny Happy People”. Ele até brinca dando a entender que o disco é “um erro” por conta dessa discrepância.
Outro detalhe que Stipe revela no episódio é que, ao gravarem Out of Time, os integrantes do R.E.M. queriam que as músicas caminhassem em sentido oposto ao movimento grunge que estava começando a estourar nos E.U.A. Isso explica as poucas guitarras ouvidas no disco e o rumo pop das canções.
Um novo caminho
Para uma banda independente que estava acostumada a tocar para turmas de amigos da faculdade, ou em pequenos e médios shows durante anos, ver uma de suas músicas, “Losing My Religion”, alcançar o 4º lugar da Billboard Hot 100 e permanecer na parada por 21 semanas consecutivas, era sinal de que os “intelectuais e excluídos do rock altenativo” tinham espaço na mídia mainstream e caído no gosto popular. Estavam começando a “vencer na vida”.
Após Out of Time, a trajetória do R.E.M. virou história conhecida por qualquer fã de música. O grupo de Michael Stipe se tornou um dos maiores e mais respeitados do pop rock, conseguindo dialogar com ouvintes das rádios rock, jovens telespectadores da MTV e com os exigentes fãs da cena alternativa. Tudo isso sem perder a essência e o prestígio em nenhum momento da carreira.