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Black Knight faz o básico da distopia pós-nuclear, mas entretém com carisma

Série sul-coreana da Netflix peca nos combates mas empolga nas perseguições

Adaptação do webtoon homônimo de Lee Yun-kyun, Black Knight estreou como mais uma das apostas não hollywoodianas da Netflix. O parâmetro americano permanece, porém, e a série é vendida como uma promessa de ação alucinante em meio a um cenário pós-apocalíptico semelhante à de Mad Max: Estrada da Fúria. Por mais que obviamente não consiga recriar a grandiosidade do blockbuster de George Miller, a produção ainda assim soa familiar, a partir da linguagem universal dos clichês narrativos.

Em Black Knight, a Terra foi atingida por um meteoro que praticamente extinguiu a vida no planeta. O 1% da população sobrevivente da Península Coreana se divide em castas seguindo os lugares-comuns da distopia futurista: quem tem mais status vive melhor no subterrâneo, que recria a atmosfera pré-desastre, enquanto a camada mais baixa dessa nova sociedade, formada pelos chamados “refugiados”, tenta a própria sorte na superfície tóxica. Vender oxigênio à população mais pobre se torna um negócio perigoso, mas lucrativo, e é o caminho escolhido pelo refugiado Sa-wol (Kang Yoo-Seok), ciente de que se tornar um entregador de oxigênio na terra devastada é a única forma de ascender socialmente.

Dentro dessa trama, o diretor e roteirista Ui Seok Cho introduz diversas críticas ao sistema capitalista e como ele submete a população a uma constante batalha de vida ou morte, especialmente quando empresas multibilionárias têm liberdade para comercializar bens vitais. Essas críticas nunca se aprofundam além do consagrado na ficção científica politicamente engajada, e mesmo nos momentos mais contundentes vêm acompanhadas de jargões e conceitos já bem conhecidos do público. Qualquer espectador que já tenha visto ou jogado uma narrativa pós-nuclear vai reconhecer a dinâmica de perseguições a mutantes ou a rotina de gangues saqueadoras de grandes carregamentos.

Apesar de ter uma montagem regular ao longo da série, Black Knight perde a mão na hora de criar suas cenas de combate corpo a corpo. Seja para passar uma impressão de maior agilidade ou apenas para disfarçar uma ou outra coreografia de luta pouco inspirada, esses momentos recorrem a cortes aparentemente aleatórios, que juntam tomadas claramente isoladas e resultam tão confusos quanto distrativos. A clara exceção acontece no terceiro episódio, em que Sa-wol e outros candidatos a entregador saem na mão em um belíssimo battle royale. A luta, inclusive, parece saída de uma produção completamente diferente, tamanha a diferença para outros momentos de porradaria da temporada.

O vilão Ryu Seok (Song Seung-heon) é o único outro grande problema de Black Knight. Ainda que tenha base na realidade, o arquétipo de empresário megalomaníaco e cruel é desenvolvido precariamente e, infelizmente, Song não consegue dar ao antagonista o mesmo carisma que Kang, Kim Woo-bin e Lee Yi-Dam entregam em suas atuações. Por mais que sua ameaça sobre os entregadores e a sociedade refugiada como um todo seja, de fato, a grande força motriz da trama, ele nunca vai além do estereótipo, mesmo que ocupe um tempo considerável dos seis episódios da temporada.

Dito isso, Black Knight é recheado de personagens divertidos. Enquanto os protagonistas 5-8 (Kim) e Sa-wol conquistam por seu altruísmo e carisma, os coadjuvantes ajudam a desenvolver esse mundo desolado com tramas paralelas empolgantes e que amarram muito bem diferentes núcleos da série.

Ainda que o combate não encha os olhos, as perseguições e os assaltos em alta velocidade convencem. Mesmo que às vezes exagere no filtro bege usado para explicitar a toxicidade da atmosfera, Black Knight mostra grande cuidado nessas sequências, que homenageiam, mas não tentam emular, momentos similares de franquias como Velozes e Furiosos e a já citada Mad Max. Ao contrário do que aconteceu na maioria das brigas cara a cara, as batalhas automotivas são filmadas e editadas para evidenciar cada manobra, batida e capotada sem prejudicar a compreensão do espectador.

Mesmo com boas ideias sacadas a partir de premissas batidas como habilidades sobre-humanas ou apocalipses ambientais, Black Knight prioriza a familiaridade em torno desses temas para facilitar o entendimento do espectador, seja aqui ou na Coreia do Sul. O ótimo trabalho do elenco e a qualidade surpreendente de suas cenas de perseguição, porém, fazem com que seja extremamente fácil relevar os pecados da produção para aproveitar o bom entretenimento importado pelo streaming.

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