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Os Cavaleiros do Zodíaco: Saint Seiya — O Começo é novelão para novo público

Produção atualiza temática adolescente sem perder tom da série original

Quando Masami Kurumada lançou Saint Seiya nos anos 80, as adaptações em live action de animes não eram uma realidade no Ocidente. Se algum fã no mundo todo aguardou 40 anos por Os Cavaleiros do Zodíaco: Saint Seiya — O Começo, é importante frisar que essa versão com atores não parece ter sido feita para ele. O live action da saga de Seiya de Pégaso está atrás de uma nova geração de fãs.

A cada ano desde seu lançamento, e até muito recentemente, a franquia de Cavaleiros só cresceu em popularidade, a julgar pelas revisões e pelas versões em computação gráfica lançadas no streaming. O filme de Tomek Bagiński tenta preservar essa popularidade eclética e conta com um rosto queridinho dos live-action de animes, Mackenyu Arata, ao lado dos hollywoodianos Sean Bean e Famke Janssen. Os três nomes carregam um caminhão de experiência quando o assunto é levar cultura pop para as telas. Mas os currículos que contam com adaptações de Marvel, Game of Thrones, O Senhor dos Anéis e Samurai X não são o bastante para gerar o resultado esperado pela produção.

Na história, Seiya (vivido por Arata) é um adolescente órfão e obstinado que passa seu tempo em lutas clandestinas por dinheiro enquanto procura por sua irmã sequestrada. Quando uma de suas lutas desperta seu Cosmo, Seiya se vê jogado em um mundo de guerreiros lendários onde a reencarnação da deusa Athena precisa de sua proteção. A reedição da saga do Santuário deixaria o fã da franquia ansioso, mas, ao contrário do anime, não vemos muitos cavaleiros no longa. O título não mente: o foco realmente é no começo da história e numa rivalidade entre Seiya e Ikki de Fênix (Diego Tinoco). Como na obra original, o filme dá espaço para enredos paralelos, mas transpor para o live action o sentimentalismo da animação (especialmente na relação entre Seiya e Saori) hoje parece aproximar mais Cavaleiros de uma novela adolescente do que parece ser a intenção dos realizadores.

Outro momento em que o live action cai nas armadilhas destas adaptações é na questão de orçamento. Na computação gráfica do filme, falta ao lendário Meteoro de Pégaso o impacto visto nos traços dinâmicos dos animes. É difícil que nessa transição os efeitos façam jus à obra original, e Cavaleiros do Zodíaco, como todo shonen, é feito de lutas épicas a cada capítulo. No caso da obra de Kurumada, luzes, cores e noção de espaço são ainda mais essenciais para traduzir o peso dos embates, e traduzir isso em live action exige um comprometimento estético que parece hoje cada vez mais raro no cinema de apelo pop.

Quando o assunto é o roteiro de Josh Campbell e Matt Stuecken, as discrepâncias em relação ao mangá ficam até em segundo plano. Os personagens de Sean Bean e Famke Janssen acabam recebendo mais importância do que tinham nas histórias originais — no plural, já que a personagem da atriz só apareceu na saga na versão 3D, de 2019, como um homem. A tentativa da produção de fazer com que os nomes conhecidos refrescassem o público tira da trama central alguns preciosos minutos. Com isso, a história de Seiya e Saori fica rasa e o vilão do filme sequer tem um arco de apresentação. As motivações dos personagens tampouco convencem e, a cada minuto, o filme de quase duas horas tem mais dificuldade de prender o espectador — tanto o veterano quanto o estreante na saga.

Os Cavaleiros do Zodíaco: Saint Seiya — O Começo precisa melhorar muito caso o estúdio insista em levar essa franquia para frente. Como a grande maioria das adaptações live action de anime e mangá, o novo filme tem mais problemas que soluções, mas ainda assim consegue cativar através da essência da obra original, seja por nostalgia ou mera curiosidade. Nesse sentido, o peso de 40 anos de história joga a favor da franquia.

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