Imagina viver o mesmo dia todos os dias da sua vida? E se o tempo pudesse parar? E se vivêssemos todos os dias a mesma coisa: seria liberdade ou solidão? Sabemos aproveitar os detalhes da rotina?
Em The Map Of Tiny Perfect Things, novo romance adolescente da Amazon, essa é a premissa – e, inicialmente, é a realidade de Mark (Kyle Allen), o protagonista de 17 anos que acorda todas as manhãs no mesmo dia e está preso em um ‘time loop’ – um enredo comum na ficção científica de sempre voltar a um determinado período de tempo.
A premissa de time loop de The Map of Tiny Perfect Things é interessante e divertida – e embora já tenha sido explorada algumas vezes, principalmente em filmes de ficção científica e fantasia, segue como uma ótima alternativa para brincar com a narrativa e provocar reflexões sobre o tempo.
Logo nas primeiras cenas, o filme quer bagunçar a mente do público ao iniciar a história sem um ponto de partida introdutório e explicativo. The Map Of Tiny Perfect Things abre a narrativa com um jovem aparentemente feliz. Gradualmente, passamos a entender que, na verdade, Mark está preso na mesma rotina há tanto tempo a ponto de ter memorizado cada detalhe, fala e momento daquele determinado dia.
Todos vivem normalmente, e só Mark parece ter conhecimento sobre o time loop. É quando tudo muda e a existência do garoto toma um novo propósito. Em um dos mesmos lugares onde ele está todos os dias, ele vê um diferente acontecimento – uma garota passa, e como ele bem sabe, ela não estava ali.
Curioso para saber quem é a tal garota, ele a procura em meio à mesmice. Ao encontrá-la, descobre que assim como ele, Margaret (Kathryn Newton), é a única pessoa que parece saber da ‘temporal anomaly’ (“anomalia temporal”, em tradução livre), enquanto todas as outras repetem as mesmas atitudes diariamente.
Em uma conexão instantânea por compartilharem à semelhante rotina, os dois embarcam em uma aventura, na tentativa de evitar a realidade, e decidem encontrar ‘as pequenas coisas perfeitas’ que a vida tem a oferecer naquele dia em que estão presos.
A partir da ‘missão’ de Mark e Margaret, o filme reflete constantemente sobre a necessidade de valorizar os simples momentos do dia a dia. Como um bom romance adolescente, é com esta aventura – sensível e divertida – que os dois vão se aproximar, e é claro, se apaixonar, embora, inicialmente, Margaret não queira ceder aos sentimentos.
Diferente de outros filmes que partem da mesma premissa, a produção, dirigida por Ian Samuels e com um roteiro de Lev Grossman, quer refletir, de maneira leve e complexa ao mesmo tempo, sobre o significado de tempo e principalmente sobre o valor da vida. Isso fica nítido com os comportamentos divergentes de Mark e Margaret ao enfrentarem o time loop.
O roteiro de Grossman repete clichês esperados para um romance adolescente, como é o próprio caso da paixão que surge entre Mark e Margaret, apesar das diferentes reflexões sobre vida e significado de tempo. No entanto, consegue ser incrivelmente surpreendente em diversos momentos da história, que se desenrola facilmente, sem tropeços e é muito agradável de acompanhar.
The Map of Tiny Perfect Thingsé aquele ótimo romance com uma quantidade saudável de drama no roteiro. É um passeio interessante pelos diversos gêneros: adolescente, ficção científica, comédia, romance e drama – e essa combinação, sem excessos, dá o tom perfeito para a narrativa.
Mais impressionante do que a premissa de time loop e as reflexões sobre o tempo é o desempenho fascinante e apaixonante de Kathryn Newton e Kyle Allen como Margaret e Mark. Os dois têm uma ótima química em cena, se conectam fielmente com a história e dão ritmo para a narrativa.
Como Mark e Margaret estão praticamente sozinhos na realidade deles, os outros personagens têm pouquíssimas aparições, mas o casal protagonista é o suficiente para o desenvolvimento da narrativa. Kathryn Newton e Kyle Allen conseguem, inclusive, deixar o público com vontade de acompanhar mais sobre Mark e Margaret.
Também devido ao bom clichê de romance adolescente, os heróis da história são os dois, especialmente Margaret, que descobre faltar um único pequeno perfeito momento que precisa acontecer para o tempo ‘voltar’ ao normal. E, como era de se esperar, está conectado com Mark.
A trilha sonora encaixa perfeitamente com o tom romântico e adolescente do filme, com músicas alternativas e do universo indie – assim como é a proposta visual apresentada. Com uma forte identidade visual, The Map of Tiny Perfect Things conta com cortes que lembram cenas de um clipe de uma banda indie da década passada.
De fato, o filme tem bem mais acertos do que erros – não é um clássico do cinema, no entanto, é surpreendente dentro do gênero romântico adolescente. É divertido, agradável, sensível e com camadas suficientes de complexidade e profundidade nos arcos narrativos dos protagonistas.
Com um roteiro curioso, e com a intenção de provocar ótimas reflexões no espectador, The Map of Tiny Perfect Things vai além de um romance adolescente. O filme original Amazon Prime Video chega ao catálogo do streaming nesta sexta, 12 de fevereiro.